Facetas da diversidade de peixes em riachos de terra firme na Amazônia : fatores estruturantes em múltiplas escalas
Autor: André Ribeiro Martins (Currículo Lattes)
Resumo
A literatura tem apontado que as comunidades biológicas são estruturadas por uma combinação de processos que ocorrem em múltiplas escalas, onde em amplas escalas espaciais e temporais, processos históricos de especiação, extinção e dispersão são responsáveis pela formação do conjunto regional de espécies. Por sua vez, em escalas menores de tempo e espaço, processos ecológicos contemporâneos (i.e., filtragem ambiental) são responsáveis pela determinação dos padrões de composição e diversidade nas comunidades locais. A presente Tese investiga os fatores que influenciam a composição e diversidade de peixes de riachos amazônicos, adotando uma abordagem multifacetada que integra as facetas taxonômica, funcional e filogenética da biodiversidade. Para isso, utilizamos um extenso banco de dados de peixes e de características ambientais locais de 30 pequenos riachos de terra firme (i.e., não inundáveis) da Volta Grande do Xingu, inventariados entre os anos de 2012 e 2023. Observamos que a limitação de dispersão, as condições ambientais em múltiplas escalas e a conectividade explica boa parte estrutura das assembleias de peixes desses sistemas, enquanto interações interespecíficas (por exemplo, competição), parecem ter pouca influência na dinâmica e distribuição das espécies de peixes nas assembleias. Observamos que tanto a diversidade funcional quanto a diversidade filogenética são explicadas pelas condições ambientais e pela conectividade. Além disso, a singularidade funcional, que destaca a presença de características únicas nas assembleias locais, está fortemente associada às condições ambientais. Por outro lado, a singularidade filogenética, que mede o quanto as espécies de um determinado local são únicas em termos de sua história evolutiva em comparação com outros locais, é explicada por uma combinação de fatores ambientais e conectividade. Exploramos a dinâmica temporal das assembleias de peixes, focando no impacto de eventos de secas extremas na diversidade beta temporal, que mede a variação na composição de espécies ao longo do tempo. Tanto em riachos perenes quanto naqueles afetados pela perda do fluxo, o componente de substituição de espécies foi o principal responsável pela diversidade beta temporal, indicando que a mudança na composição das comunidades de peixes ao longo do tempo é devido à entrada e saída de espécies, e não à formação de subconjuntos aninhados de espécies. Embora a substituição seja o componente dominante em ambos os tipos de riachos, os eventos de secas extremas amplificam esse mecanismo. As informações presentes nesta Tese demonstram a necessidade de avaliar múltiplas facetas da biodiversidade (taxonômica, funcional e filogenéticas) e destacam a necessidade do monitoramento ecológico contínuo e de longo prazo dos sistemas naturais.